O olho vêA lembrança revêA imaginação transvê (Manoel de Barros)…E esse mundo assim foi feito ( Sidney Miller) CADERNO DE POESIAPágina primeira, novo caderno de poesiaQuantos já foram vencidos?Quantos ficaram para trás?E se não foram contados,muito menos conhecidos.Coletânea de aquarelasPaisagens que refletem vidas,em muitos casos aprisionando luz…Suaves telas impressionistasSão momentos de jardins, raios de muitos sóis,Cantos, músicas, encontros São imagens coloridasUm rastro iluminado, tal campo de girasóis.Um rápido movimento,Uma página virada e o enfoque é alterado…Ventos fortes, tempestades,A paisagem se transformaquando a alma se transtorna.Fortes cores de cruel expressionismoA transparência se esvaiO sombrio encobre a luzQuebra-se o encanto, o otimismo,Surge,com força, o tormentoSão imagens distorcidasE, nos céus, explode o grito ..………………………………………………………………………………………………….Contudo,o consolo é a constante:Saber do ir e vir flutuante,Nada firma posição,Que a única determinanteé a indeterminação!Não é pouco importante a recomendação de Manoel de Barros:“É preciso transver o mundo” , atitude que nos leva a diminuir o peso da realidade e aconchegar-se ao “olharenviesado” do poeta… e assim “aumentar o mundo” no que ele oferece de melhor. Estaria ele aconselhando a mentir? E por que não?“É preciso mentir para viver”Ninguém enxergou melhor os girassóis que alguém que morreu louco…
Meu trabalho... meu eu disseminado.
O que faço é o que sou, no tempo registrado.
O gesto, a ideia, a palavra, o sentimento,
reflexos daquilo que em mim habita,
nem mais nem menos do que sou capaz.
É o rastro que fica do que vou vivendo.
Não há porque olhar pra trás.
O que passou, ficou, semente semeada.
Se brota, se produz, já não me cabe olhar.
Colher o que eu plantei?
Jamais! Não é esta a intenção.
Erros, acertos são parte do processo,
ganhos ou perdas são parte do ideal.
Mas que não podem nunca
colar-se à minha pele,
têm peso insuportável, pra quem pretende, leve
alçar-se em voo livre,
rumo à amplidão.
Estar atento, viver de olhos abertos,
viver cada momento com determinação.
Ser disponível, sem esforço heroico,
apenas ser presença, em cada situação.
O rio não contabiliza as terras que irriga.
A água não se impõe, vai fluindo pela vida
gerando existência, fazendo seu caminho,
criando sua rota na menor resistência
até alcançar o mar, ímã de toda água,
essência do caminho que um dia quis andar.
Quisera caminhar tal rio generoso,
sem pressa ir traçando a minha breve história.
Apenas ser feliz é tudo que desejo,
bagagem muito leve, sem fama, sem prestígio,
sem lucro, sem sucesso ou honraria.
Fazer outros felizes, maior prazer não há.
Sorrir... fazer sorrir... é tudo que eu queria.
Creia, é nisto que consiste a verdadeira glória.
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